2.
Maria Adelaide acordava todos os dias às seis da manhã. Mulher nos seus quarentas, não se lembrava de ter feito outra coisa na sua vida senão trabalhar nas limpezas. Estava Maria Adelaide na adolescência quando a mãe, também ela entendida na lixívia, nos detergentes, na pá e na vassoura, mas já quase incapacitada, decidira levá-la consigo para a casa onde então trabalhava, habitada por um casal de meia-idade e sem filhos que, por caprichos insondáveis, não tolerava que uma empregada estivesse ainda presente quando por fim chegavam a casa depois do trabalho
_____já a avisei, não quero voltar a encontrá-la aqui. Que seja a última vez.
Ora a mãe de Maria Adelaide, apercebendo-se de que as suas limitações a impediam de cumprir a função no horário previsto, não tivera outra hipótese senão recorrer à filha
_____Lai, preciso que venhas comigo ou sou despedida e ficamos sem nada
e Lai, bastante adulta para a sua idade e sabendo o que custava à mãe pôr comida à mesa todos os dias
_____não te preocupes, mãe, não deixo que nada nos aconteça
logo se disponibilizou para ajudar, iniciando aí o curso intensivo de empregada de limpeza para o qual, repetia ainda hoje
_____também deveria haver diploma.
Lai tornara-se numa profissional extremamente competente no seu ofício. Depois de acordar e sair de casa, iniciava uma autêntica maratona de higiene domiciliária, percorrendo diversas habitações ao longo do dia e deixando em todas elas um rasto de limpeza e competência que não só era aclamado pelos diversos empregadores
_____bis, bis
como lhe deixava uma sensação preenchedora de dever cumprido. Lai, não enriquecendo
_____não se enganem, ninguém enriquece a limpar a merda
__________desculpem-me, a sujidade
_____dos outros
era feliz com o que fazia, independentemente de todos os dias regressar a casa com o cheiro a lixívia, estéril mas agressivo, que o seu desempregado e sobrenutrido marido desdenhava.
domingo, junho 13, 2010
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